Os passos e os momentos no trajeto de um GAPIC Alumni
On 29 Julho, 2019 2019 | Mais e Melhor Comentários fechados em Os passos e os momentos no trajeto de um GAPIC Alumni No tagsAs efemérides institucionais revestem-se de pose e formalismo, mas são muitas as histórias que escondem, as pessoas que as sustentam e as reflexões que proporcionam. Estes 30 anos de GAPIC merecem-no e estão cheios destas histórias; tive o privilégio e a oportunidade de me contar entre elas.
Há mais de duas décadas, participei como estudante do curso de Medicina em mais do que uma edição dos programas de apoio a investigação científica pré-graduada. Naveguei da via Delta-Notch com o Professor Domingos Henrique para a cognição dos alfabetizados tardios com o Professor Castro-Caldas. Acabei, muitos anos mais tarde, pediatra, docente e investigador clínico, interessado na área respiratória e metodológica, dos ensaios clínicos as meta-análises. Confuso? Talvez. Mas testemunho de que o impacto do percurso científico pré-graduado foi bem além de uma linha mais num curriculum imberbe, de uma área, de uma técnica ou de um método específico. Neste trajeto, como o de tantos outros, os mesmos princípios básicos: a genuína inquietude pela pergunta que está por esclarecer, a necessidade imperiosa de perceber melhor, o arriscar quase clandestino num caminho diferente.
Anos mais tarde, pude retribuir o contributo para o meu percurso, como membro de uma equipa GAPIC que com eficiente descrição, empenho e entusiasmo assegura a continuidade que proporcionam estes aniversários redondos felizes. De facto, as métricas dos 30 anos impressionam em estudantes e projectos apoiados. Mas são talvez os pequenos detalhes que fazem as maiores diferenças na definição de um trajeto científico. Muito se tem discutido, escrito e analisado sobre a crise do médico-investigador, em particular num país em que a investigação clínica, na sua perspetiva mais ampla, nunca parece sedimentada. Percebo bem o quanto os estudantes se possam sentir perdidos entre as exigências académicas e os desafios assistenciais, e que uma ciência em constante evolução em complexidade e interdisciplinaridade possa parecer cada vez mais distante e hermética.
Mas para os muitos de nós que acreditam, ou melhor do que isso, que percebem, pela evidência, a importância crucial da investigação na medicina presente e futura, aqueles princípios básicos continuam sólidos. E são esses princípios que o GAPIC acolhe, e que os seus fundadores, orientadores, formadores e revisores tem sabido proporcionar. Foram muitos os colegas que vi abrir horizontes e dar os primeiros passos para carreiras brilhantes. Outros, mais discretos, nos seus trajetos, certamente lembram o Dia da Investigação como o culminar de uma experiência diferente. Numa altura em que comemoramos meio século dos primeiros passos no tal outro mundo lunar, como celebração de triunfos da ciência e da tecnologia cuja influência, paradoxalmente, nunca me pareceu tão ameaçada, vale a pena realçar como os tais “pequenos passos” em momentos-chave podem definir de forma decisiva as trajetórias individuais.
Professor Doutor Ricardo Fernandes