Uma conversa a 6…com os Discentes do Pedagógico
By Cristina Bastos On 26 Maio, 2019 2019 | Reportagem / Perfil Comentários fechados em Uma conversa a 6…com os Discentes do Pedagógico Etiquetas:sliderSe há coisa que é característica inata em todos os estudantes que tenho conhecido é a pontualidade exemplar, nem um minuto antes, nem um depois.
Entram todos com um sorriso rasgado que inspira uma franqueza natural, revejo a Catarina Bravo e conheço a Joana Bastos, o João Torres e o Guilherme Vilhais. Minutos depois chega a Liliana Pacheco e só depois o Francisco Baptista. Todos eles discentes efetivos do Conselho Pedagógico da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e que terminaram em abril o seu mandato, à exceção do Francisco, que neste mandato era discente suplente, juntamente com a Mariana Caetano, a Inês Mendo, o João Afonso, o João Antunes e o João Martins, e que no passado dia 9 de abril tomou posse com o seu novo grupo de Discentes, agora como membro efetivo.
Órgão de gestão pedagógica da FMUL, o Conselho Pedagógico é composto por 6 docentes e por 6 estudantes, em caso de empate numa votação é o Presidente do Conselho que decide.
Com acesso privilegiado a dois mundos, o grupo dos Discentes da CP convive entre o universo académico e o dos Professores. Nesta balança de comunicação permitem-se a representar uma voz coletiva dos alunos, assumindo-se como os interlocutores com os Docentes.
Com um ano de mandato que chegou ao fim no mês de abril, encontro-me com 5 dos Discentes efetivos, porque a Clara Oliveira não conseguiu estar presente. Comigo fazem o balanço do que foi feito e do que quereriam ainda dizer.

No dia tomada de posse 13 abril 2018
Habituados a ter apenas uma lista de Discentes a concorrer, defendem um trabalho de continuidade, não se notando as transições abruptas de novas personalidades. A Catarina e a Joana atravessaram três mandatos juntas, o João, a Liliana e o Guilherme dois, e o Francisco um.
Todos eles assumiram responsabilidades e defendem que as ideias ganham força se forem faladas, mas essencialmente postas em prática. Na responsabilidade de dar a cara, mesmo pelos movimentos menos populares, há como que um sentido social, uma missão.
É curioso esse consenso que os une para tudo, em nada falam dos seus pares com rivalidade e mesmo que houvesse listas várias a concorrer, não seriam rivais, dizem-me, seriam apenas listas parceiras.
Em tudo o que os desafiámos eles corresponderam, ajudaram-nos num trabalho conjunto onde se envolveram com empenho, alma. Ganharam uma facilidade quase altruísta de se saberem colocar no lugar dos outros, acreditam no fim comum se ele for para o bem da maioria. Falso puritanismo? Não, de todo, é sentido de responsabilidade!
Tendo alguns de vocês estado em mais do que um mandato no CP, tiveram a possibilidade de acompanhar dois Presidentes diferentes, a Professora Isabel Pavão Martins e depois o Professor Joaquim Ferreira. Dessa relação com um e com outro o que retiram de principal?
Catarina: Tivemos a oportunidade de trabalhar com ambos em momentos diferentes dos respetivos mandatos. Com a Professora Isabel Pavão Martins, trabalhámos numa fase mais avançada do seu mandato, enquanto com o Professor Joaquim Ferreira numa fase mais inicial. Contudo, com ambos os Professores crescemos e aprendemos muito e terminámos os mandatos sentindo que tínhamos cumprido a nossa missão como Discentes. No último mandato, com a Professora Isabel P. Martins, conseguimos concluir objetivos traçados há mais tempo, inclusivamente por outros discentes em mandatos anteriores, e foi muito importante e enriquecedor alcançá-los. Com o Professor Joaquim Ferreira estivemos apenas um mandato, e apesar de ter passado somente um ano, foi um período muito cheio, em que conseguimos ver várias mudanças na nossa Faculdade. Com o Professor aprendemos a importância de definir prioridades e de nos focarmos naquilo que conseguimos, em conjunto, mudar no momento, a mais curto prazo. O Progress Testing foi um bom exemplo de uma mudança que foi possível ver concretizada num curto espaço de tempo e que nos deixa muito felizes, foi uma ideia do Professor e que nós apoiámos e ajudámos a fazer crescer.

Catarina Bravo
Joana: Quando olhamos para trás e revemos este ano de mandato temos noção que começámos com um mindset, com um tipo de prioridades, que depois foram reajustadas. Já tínhamos uma ideia da filosofia do Professor que era mais on target, on point, com coisas facilmente operacionalizáveis e que daqui a seis meses teriam resultados. E nós não estávamos habituados a isso e tivemos de ser mais precisos e aprender, mais do que nunca, que as nossas batalhas, mais do que dos Discentes, são do Pedagógico. Só todos juntos conseguimos coisas no imediato e, de facto, conseguimos atingi-las e foram coisas que nos dispusemos a ajudar e que, não sendo causas nossas, sentimos como nossas pelo grande benefício que, reconhecemos, trouxeram e trazem aos estudantes. O Progress Testing, mas também a App myFenix, o Código de Honra.
O Código de Honra foi uma iniciativa recente?
Joana: Sim! Eu e a Liliana fomos as que estivemos mais diretamente envolvidas, mas depois todo o núcleo considera que a integridade, como ponto assente em todos os estudantes nesta Faculdade, tem que existir desde o primeiro até ao último dia em que somos alunos desta casa. O Código de Honra vem materializar, na perfeição, a nossa visão. Foi mais uma ideia que partiu do Professor. Neste mandato sinto que mais do que batalhas, tivemos vitórias de sinergias que foram absolutamente fantásticas e que não estávamos à espera.

Joana Bastos
Foi um desafio trabalhar com o Professor Joaquim Ferreira?
Catarina: Foi um desafio extremamente enriquecedor. Com o Professor aprendemos e crescemos muito.
Joana: Foi sem dúvida, mas que hoje em dia é muito mais gratificante se olharmos para trás.
Mas que também tem reflexos para a frente certamente.
Joana: Uma das heranças importantes que deixámos foi aproveitar com humildade a oportunidade de os Discentes e os Docentes do CP terem, neste momento, uma plataforma de comunicação que é muito benéfica para a Faculdade.
E o Progress Testing conseguiu avançar?
Catarina: Sim, foi uma ideia do Professor, que nós de imediato apoiámos. Juntos demos-lhe nome e ajudámos a criar o conceito. E ainda que a ideia tenha surgido numa reunião muito próxima da data que julgaríamos ser a melhor para este teste (antes das primeiras épocas de exames começarem), pensando que não poderíamos deixar passar um ano até termos a primeira edição e perder um ano de potencial otimização e melhoria para uma edição futura, abraçámos em conjunto este projeto, foi criada uma Comissão de Docentes para tal, e assim surgiu a primeira edição, o que nos deixou particularmente felizes.
Guilherme: Falou-se pela primeira vez em fevereiro.

Guilherme Vilhais
Joana: Num mês tínhamos de testar. E quanto mais tempo testássemos, mais oportunidade dávamos para que em anos futuros o processo já estivesse otimizado. Por isso atrasar um mês era atrasar um ano para termos uma primeira experimentação deste modelo. Isto também reflete o que nós herdámos do Professor (ri), agilizar e fazer, mesmo que depois se vá melhorando.
Guilherme: Esta mentalidade foi algo que desenvolvemos muito neste mandato. É aquela ideia do “vamos aprovar e depois otimizamos, mas vamos avançar”. Não ficámos à espera de tentar corrigir todas as falhas antes de implementar, porque isso torna o processo pouco ágil e atrasa em meses e anos os procedimentos. O pragmatismo que ganhámos, sobretudo neste mandato, foi uma característica que conseguimos adquirir de forma benéfica, especialmente por termos apanhado esta transição. Tendo os Professores formas de trabalhar muito diferentes, foi uma excelente oportunidade explorar essas diferenças e termos de nos adaptar às diferentes personalidades de cada um.
Sentiram algumas vezes que eram os portadores das notícias difíceis diante dos vossos colegas? Porque o Progress Testing é um desafio à partida menos “divertido” do que uma festa académica, ou um workshop mais lúdico… É um teste que exige empenho e que expõe diante do próprio as suas fraquezas.
Joana: Claro que há grupos mais populares do que nós. (ri) Nós não promovemos a festa, é verdade. No entanto nunca senti pessoalmente nada, mas tenho noção que isto de se promover a integridade académica pode ser um discurso mais aborrecido. Se há coisa que o Professor Joaquim Ferreira nos trouxe foi perceber o sentido de sermos representantes dos nossos, em algum grau. Mas também existe uma componente importante naquilo em que acreditamos ser o melhor, não só para nós, mas para o Conselho Pedagógico e para a Faculdade. Por isso não nos arrependemos de ser mais sérios, porque será o melhor para nós agora e para o futuro, também.
Catarina: Sentimo-nos mensageiros de pontos de vista a que os nossos colegas não têm acesso e que podem contribuir para mudar a sua visão acerca de várias temáticas. Exemplo disso são os inquéritos de avaliação do ensino. Todos nós reconhecemos que é exigente em termos de tempo preencher estes inquéritos, e se nos ficássemos apenas pela visão do esforço que exige e não soubéssemos as consequências que este esforço pode ter de facto para a melhoria do ensino na Faculdade (mesmo que as mudanças ainda não sejam tão palpáveis como gostaríamos), provavelmente também ficaríamos a achar que poderia ser um esforço inglório. Mas nós sabemos que não é perder, mas ganhar tempo porque estamos cientes de que isso vai beneficiar a nossa Escola e a nossa formação e a dos colegas que virão no futuro, e é esse tipo de mensagens que procuramos passar.
Este vosso papel de interlocutores entre alunos e Professores permite-vos ser os verdadeiros agentes da mudança?
Guilherme: Existem três Órgãos que representam os estudantes, a Associação (AEFML), nós (C. Pedagógico) e os Discentes do Conselho de Escola e é engraçado perceber o nosso papel nessa representação tripartida. Em alguns pontos partilhamos posições e temos batalhas comuns, mas somos diferentes. A nossa função passa muito por perceber os dois lados, tendo contacto próximo com Professores, e debruçamo-nos sobretudo sobre o ensino na Faculdade. Depois é importante estabelecer essa relação de proximidade com os nossos colegas.
Mas parece-me que no Conselho de Escola os alunos têm menos peso. Não?
Catarina: É diferente, porque enquanto do Conselho de Escola fazem parte apenas 3 Discentes efetivos, no Conselho Pedagógico há um igual número de Docentes e Discentes, uma das características que diferencia este órgão.
Cálculo que achem essa paridade de 6 para 6 justa… Será que os Professores também acham o mesmo?
Joana: Os Professores têm mais peso porque o Presidente tem voto de qualidade e existindo uma questão muito fraturante, quem prevalece são os Professores.
E há essas questões fraturantes?
Joana: Nós ouvimos relatos históricos, mas nunca sentimos muito isso na pele.
Num mês em que nos dedicamos à relação aluno versus professor e na perspetiva de quem conviveu diariamente com professores e partilhou com eles o mesmo peso de decisão, que relação se espreme daí? Há uma hierarquia muito demarcada ou é a curiosidade do aluno que move e motiva o próprio professor?
Catarina: No CP, existe uma relação muito próxima entre Professores e Alunos. Aluno e Professor potenciam-se, da discussão conjunta de Docentes e Discentes, pares num mesmo órgão, surge a mudança, e é isso que torna este órgão tão único.
Guilherme: Nós estamos a passar por uma fase de grande transição aqui na Faculdade, há uma grande renovação das regências e sente-se que os Professores que vêm dessa Escola mais antiga têm uma forma de estar um pouco diferente daqueles mais novos.
Isso quer dizer que já não se sente tanto o peso da hierarquia?
Catarina: Na nossa Escola, julgo que ainda pesa um pouco. Tivemos o privilégio de ter contactado com as reformas do Ensino que agora estão a ser desenhadas (no caso do Ensino pré-clínico) e finalizadas (no caso do Ensino Clínico), e sentimos que o peso da Escola antiga se reflete consideravelmente quando são precisas mudanças estruturais. Seria muito positivo para a Escola e para a nossa formação olhar-se para estas oportunidades de mudança de forma mais vanguardista, sem receio de abraçar a verdadeira inovação em Educação Médica e na nossa Faculdade.
Olhando para vocês há aqui um grupo que está a sair e o Francisco a representar os que acabam de chegar. Porque é que se aceitam estes lugares? Qual é a vossa causa?
Francisco: Acima de tudo, é com responsabilidade que procuramos que a nossa Escola seja a melhor Faculdade de Medicina possível, e desejamos sempre o melhor para todos os envolvidos, não só para discentes, mas para toda a comunidade académica. Portanto, se verificamos que há algo com potencial para melhorar na FMUL, especialmente no Ensino, é isso que nos move. Existem sempre aspetos que podem evoluir e melhorar. E, se existe um Órgão onde essas mudanças podem ser feitas, ao invés das ideais permanecerem em discussão no corredor, temos assim o privilégio de as levar ao local onde são tomadas as decisões.

Francisco Baptista
Catarina: Concordo plenamente. Ao ouvir o Francisco, recordo uma frase de Einstein que a mim pessoalmente me diz muito: “Temos de fazer o melhor que podemos, essa é a nossa sagrada responsabilidade humana”. Se sentimos que podemos fazer a diferença num sítio, num órgão, num projeto, então é nossa responsabilidade fazê-lo. E penso que o que nos une é precisamente sentirmos que podemos fazer a diferença pela nossa Faculdade e deixar a nossa marca, foi isso que nos fez construir a nossa equipa o mandato passado e acredito que foi o que fez construir a equipa atual.
Como é que vocês tocam os vossos colegas? Como é que os ouvem e a seguir lhes comunicam algo?
Catarina: Estando, por exemplo, atentos ao que se passa em nosso redor, ao que temos conhecimento via e-mail e ao que chega até nós através das comissões de curso dos vários anos. As comissões de curso são excelentes aliados, já que têm o conhecimento mais de perto daquilo que são os problemas do próprio ano. E neste mandato, eles foram cruciais inclusivamente na discussão e procura de soluções para temáticas sensíveis e fraturantes como os Inquéritos de Avaliação do Ensino. Surgiu de uma reunião com as Comissões de Curso a sugestão dos alunos, no caso de preencherem os inquéritos, terem prioridade na escolha de horários. Foi proposta em Conselho Pedagógico, numa altura em que se discutia a possibilidade da obrigatoriedade para ultrapassar o problema da baixa taxa de respostas, e foi aceite, vigorando atualmente. Para além disso, mantemos um contacto próximo com a AEFML e os Discentes do Conselho de Escola, que consideramos muito importante.
João: O momento da campanha eleitoral também é muito importante, é quando damos a conhecer o CP, em que mostramos aquilo que conseguimos fazer enquanto Discentes e em que somos desafiados pelos nossos colegas que nos apontam os problemas. Inclusivamente, criámos um momento e um espaço onde os alunos indicam as problemáticas mais importantes que consideram ver resolvidas. Desafiam-nos e nós tentamos sempre adaptar-nos e tomar atenção a esses problemas ao longo do mandato.

João Torres
Mas esse é um momento muito pontual, há outras formas de manter essa comunicação com os estudantes ao longo do tempo?
Catarina: Há a nossa plataforma CP for students, através da qual, via e-mail, fazemos divulgação de vários conteúdos que julgamos pertinentes, procurando manter-nos próximos dos colegas, e ainda a nossa página do facebook. Mas temos noção que os colegas têm um contacto mais faseado connosco, em comparação com a Asso